E é tão verdade. Tão certo.
01:03
…as pessoas de quem gostámos e partiram amputam-nos cruelmente de partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro. parece que sobrevivemos não aos outros mas a nós mesmos, e observamos o nosso passado como coisa alheia: os episódios dissolvem-se pouco a pouco, as memórias esbatem-se, o que fomos não nos diz respeito, o que somos estreita-se. a amplidão do futuro de outrora resume-se a um presente acanhado. se abrirmos a porta da rua o que se encontra é um muro. no nosso sangue existem mais ausências do que glóbulos. e uma análise à velocidade da sedimentação mostrará tudo em suspenso. proibo que me tirem radiografias para que as árvores de áfrica não apareçam a tremer na película.
António Lobo Antunes
2 comentários
Quem amamos tem uma grande força no que toca a magoar-nos.
ResponderExcluirNem mais. ;)
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